quinta-feira, 14 de dezembro de 2023
TIMELINE 8 - Festival de Arte Eletrônica de Belo Horizonte (imprensa)
domingo, 10 de dezembro de 2023
O TIMELINE:BH#8 - Festival de Arte Eletrônica e Cinema Experimental 2023, é uma mostra que busca divulgar autores nacionais e internacionais do cinema experimental, cinema expandido e arte eletrônica, que criam em diálogo com manifestações populares e acadêmicas de apropriação do aparato tecnológico do moderno ao contemporâneo.
Idealizado pelos cineastas e videoartistas, Joacélio Batista e Sávio Leite, o TIMELINE:BH surgiu como mostra não competitiva no Museu Mineiro em 2015. Em 2016, contou com o apoio do Sesc Palladium, que abrigou o evento anualmente até 2019. Nesse percurso, o festival abriu-se à livre inscrição de autores brasileiros e estrangeiros, seguindo sem caráter competitivo.
Em sua trajetória o TIMELINE:BH contou com o apoio de instituições culturais internacionais, como o Festival Fonlad Festival de Portugal (2016), o The New Museum of Networked Art da Alemanha (2017), o Goethe-Institut e o AG Kurzfilm, ambos da Alemanha (2018), o Medrar do Egito (2019), além de instituições culturais brasileiras, autores convidados e uma forte presença de autores emergentes. A cada edição o TIMELINE:BH busca exibir artistas de relevância internacional em sessão especial.
Em sua oitava edição, a equipe do festival formou-se a partir de Joacélio Batista, Sávio Leite, Ana Moravi, Sara Não Tem Nome e somou-se a Cláudio Santos, Francesca Leoni, Alê Amazônia, para trazer uma programação que apresentará sessão especial com Capital de Risco (2004) de Harun Farocki, Ibrida – Festival delle Arti Intermediali e programa Olhares Plurais, com curadoria de Joacélio Batista e duas produções inéditas do projeto China Tropical de Alê Amazônia.
O festival será gratuito, presencial e acontecerá entre os dias 13, 14 e 15 de dezembro de 2023, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (R. da Bahia, 2.244 - Belo Horizonte).PROGRAMAÇÃO
Quarta - 13/12 – 19h
ABERTURA - CHINA TROPICAL
Menino Branco e China Tropical - Ponta a pé
por Alê Amazônia
Quinta - 14/12 – 17h
IBRIDA FESTIVAL DELLE ARTI INTERMEDIALE: SERIALIDADES
Curtas por Francesca Leoni
Quinta - 14/12 – 19h
OLHARES PLURAIS
Curtas por Joacélio Batista
Sexta - 15/12 - 19h
SESSÃO ESPECIAL
Capital de Risco, de Harun Farocki
SESSÃO DE ABERTURA
CHINA TROPICAL
por ALÊ AMAZÔNIA
01. Menino Branco
Sinopse: "Menino Branco" é o videoclipe do single de estréia do primeiro álbum de estúdio de Amazônia, O Abstrato. Produzido pelo vencedor de vários prêmios Grammy Latino @gustavoruizchagas em parceria com o icônico saxofonista @cucaferreira70. Escrito e dirigido por Jie Cheung @_qqbxts & her studio NEW LOGIC. Produção executiva por @china.tropical. Direção de arte por @mooninpluto & @possessao_vintage.
Duração: 03’22’’
Direção: Jie Cheung
Música & Composição: Amazonia, O Abstrato & Cuca Ferreira
Mixagem e Materização: Gustavo Ruiz
Produção Musical: Brocal Musical
Diretor de fotografia: Bin Zhang
Edição e Coloração: Lucca Cui
Eletricista Chefe: Xiaobin Cao
Figurino: Roberta M.
Assistente de iluminação: Junwei Chang / Chuangye Xie
Agradecimentos especiais: 8LACKB
Produção: New Logic
Suporte de Mídia: Soti, China Tropical & Brocal Produtora
02. CHINA TROPICAL - PONTA PÉ
Direção: Ale Amazônia
Ano: Inédito
Duração: 56 minutos
Sinopse: Fragmentos da gravação perdida do primeiro álbum do projeto de intercambio musical sino-brasileiro na China, com os artistas brasileiros Ava Rocha & Negro Leo em parceria com os artistas chineses 33emybw, Gooooose & Mirrors.
SESSÃO IBRIDA FESTIVAL DELLE ARTI INTERMEDIALE
por FRANCESCA LEONI
Acompanhando há anos o trabalho de artistas no campo da videoarte e da arte intermidiática, notamos que presença da serialidade é um elemento constante e nunca banal. A serialidade está presente nesta seleção de vídeos em diversas formas: performativa, recitativa e imaginária. Em cada obra há repetição de ações, imagens, personagens que aparecem repetidas criando uma narrativa poética e artística de grande força emocional.
TÍTULO DA SELEÇÃO: SERIALIDADES
1- Gente Comune - Common People - Filippo Berta - 10'00''- Slovenia, Croatia, Serbia, Hungary, Greece, North Macedonia, Mexico, USA, South Korea- 2001
Sinopsys: Starting from the surprising fact that over thirty years after the fall of the Berlin Wall, the divisions built by man to confine peoples have multiplied exponentially, reaching over 70 in the world, the artist, between 2019 and 2020 , crossed Eastern Europe (Hungary, Serbia, Slovenia, Croatia, Turkey, North Macedonia, Greece, Bulgaria), to arrive in America (United States and Mexico), and finally in Asia (South Korea), filming videos and participatory actions with the involvement of the inhabitants of the border areas, asking them to count aloud, and in their own language, the thorns that make up the fence wires. A ritual action that is carried out through the gestures of the hands in the act of indicating each single thorn and the sound of the voice that recites the count as in an intimate prayer. The action, replicated across eight state borders where hundreds of kilometers of walls interrupt the land, denounces the search for an impossible result: the inability to glimpse an end, an endlessly repeated utopian counting that expands between space and time, between past and future, leaving no sign of the end of this phenomenon.
Partindo do fato surpreendente de que mais de trinta anos após a queda do Muro de Berlim, as divisões construídas pelo homem para confinar os povos se multiplicaram exponencialmente, atingindo mais de 70 no mundo, o artista, entre 2019 e 2020, atravessou a Europa de Leste (Hungria, Sérvia, Eslovênia, Croácia, Turquia, Macedônia do Norte, Grécia, Bulgária), para chegar à América (Estados Unidos e México), e finalmente à Ásia (Coreia do Sul), filmando vídeos e ações participativas com o envolvimento dos habitantes da fronteira áreas, pedindo-lhes que contem em voz alta, e na sua própria língua, os espinhos que compõem os arames da cerca. Ação ritual que se realiza através dos gestos das mãos no ato de indicar cada espinho e do som da voz que recita a contagem como numa oração íntima. A ação, replicada através de oito fronteiras estaduais onde centenas de quilômetros de muros interrompem a terra, denuncia a busca por um resultado impossível: a incapacidade de vislumbrar um fim, uma contagem utópica repetida incessantemente que se expande entre o espaço e o tempo, entre o passado e o futuro, não deixando nenhum sinal do fim deste fenômeno.
2- The Divine Way - Ilaria di Carlo - 15’- Italy/Germany
Sinopsys: Loosely based on Dante’s Divine Comedy, The Divine Way takes us along on the protagonist’s epic descent through an endless labyrinth of staircases. As the woman journeys deeper, the staircases mutate and she is trapped and pulled into their dangerous landscape.
Sinopse: Vagamente baseado na Divina Comédia de Dante, O Caminho Divino nos leva na descida épica do protagonista por um interminável labirinto de escadarias. À medida que a mulher avança mais fundo, as escadas mudam e ela fica presa e puxada para a paisagem perigosa.
3- Recitative - Shir Handelsman - Israel- 5’
Sinopsys: An opera singer stands on a lifted platform, singing a Martyr's wish for redemption. A counterpoint between the human voice and mechanical sounds of machinery moving up and down. The music, taken from one of J.S Bach's cantatas, is the Recitative Movement which describes the ascension of Christ and expresses the desire to become one with god.
Sinopse: Uma cantor de ópera está em uma plataforma elevada, cantando uma canção dos Mártires, desejo de redenção. Um contraste entre a voz humana e sons mecânicos de máquinas subindo e descendo. A música, tirada de uma das cantatas de J.S Bach, é o Recitativo Movimento que descreve a ascensão de Cristo e expressa o desejo de se tornar um com Deus.
4- Ymor – Junien Lahmi – 9’- France
Sinopsys: Inspired by Romy Schneider's revelations about her childhood, this film imagines the monstrous forms that may have hanted her nightmares and upset her psyche. When the truth can't come out, we make it into a monster
Sinopse: Inspirado nas revelações de Romy Schneider sobre sua infância, este filme imagina as formas monstruosas que podem ter assombrado seus pesadelos e perturbado sua psique. Quando a verdade não pode ser revelada, nós a transformamos em um monstro
5- Black Summer – Felix Dierich – 11.40
Sinopsys: In the Black Summer of 2019-2020, Australia had some of the worst bushfires in its history, observed by the meteorological satellite Himawari-8 from the far distance. For this experimental animated documentary, terabytes of satellite data were processed with specially developed algorithms, combining visible light and infrared measurements with heat detection into a unique hypnotic stream of images.
Sinopse: No Verão Negro de 2019-2020, a Austrália teve alguns dos piores incêndios florestais da sua história, observados pelo satélite meteorológico Himawari-8 à distância. Para este documentário animado experimental, terabytes de dados de satélite foram processados com algoritmos especialmente desenvolvidos, combinando medições de luz visível e infravermelha com detecção de calor em um fluxo hipnótico único de imagens.
6- Rage – Katherina Sadovsky – 12.36
Sinopsys: Experimental video work in which the artist explores how art and culture become tools of military propaganda, working for the authorities. And how in modern Russia, they are trying to start a second wind of Soviet monumental propaganda, justifying and supporting the war in Ukraine. The film is built on alternating long, slow shots of Soviet architecture of the 30s. One place in Moscow is shown - the VDNH park, built by Stalin in the 30s as a utopia for the Soviet people, as a future city in which we were never destined to be. Here architecture is seen as monumental propaganda before World War II. The use of baroque elements, massive columns, and other details of unthinkable dimensions was supposed to inspire horror and a sense of the worthlessness of a person before the authorities. And that means complete submission.
Sinopse: Trabalho experimental de vídeo em que o artista explora como a arte e a cultura se tornam ferramentas de propaganda militar, trabalhando para as autoridades. E como na Rússia moderna eles estão tentando dar início a um segundo fôlego de propaganda monumental soviética, justificando e apoiando a guerra na Ucrânia. O filme é baseado em planos alternados, longos e lentos, da arquitetura soviética dos anos 30. É mostrado um lugar em Moscou - o parque VDNH, construído por Stalin na década de 30 como uma utopia para o povo soviético, como uma cidade futura na qual nunca estávamos destinados a estar. Aqui a arquitetura é vista como propaganda monumental antes da Segunda Guerra Mundial. O uso de elementos barrocos, colunas maciças e outros detalhes de dimensões impensáveis deveria inspirar horror e uma sensação de inutilidade de uma pessoa perante as autoridades. E isso significa submissão completa.
SESSÃO OLHARES PLURAIS
por JOACÉLIO BATISTA
01 – 16x09
Leoni Pokuta (Alemanha)
2018 - México
Duraccíon: 08:04
Sinopse: A dos siglos de la Independencia de México, ¿cómo la viven hoy los habitantes de la capital?
02 - The Stream XII-II”
Hiroya Sakurai ( Japão)
2022
04min.55sec.
Sinopse: The Stream XII-II Human beings act on nature in order to keep their lives. From their activities, several streams are generated and landscapes are transformed. I focus on the beauty of transformation created through the relation between human activities and nature, and want to express the beauty as a kind of visual ballet.
03 - Quando chorei e quase fiz nascer nascente
Maria Mendes ( Brasil )
2023
Duração: 3'50
Sinopse: Desenhos de fitas azuis pela água, pequenos rios sobre um rio. Eles boiam, encontram galhos, se molham e seguem caminho. Essas imagens surgiram em um primeiro momento a partir de uma reflexão sobre relações, de encontros e desencontros. Mas também sobre pensar em si e na vida como rio, sempre em eterno movimento.
04 - VADE ULTRA
Carlosmagno Rodrigues (Brasil)
2021
Duração: 10 minutos
Sinopse: “Vade Ultra” é um filme que expõe opiniões sobre a prática da filmagem, seja ela horizontal ou vertical, sendo esta última maneira de filmar sugerida como um tipo de cinema criativo predominantemente popular. Fenômenos culturais ressignificam imagens e estas podem ser benevolentes ou beligerantes. Seguimos por atos e trevas, tateando na escuridão tentamos nos restabelecer ressignificando ícones.
05 - Invasion
Margarida Paiva (Portugal)
2021 - Noruega
Duração: 8 minutos
Sinopse: "Invasão" é o terceiro vídeo de uma série que tematicamente gira em torno da natureza, dos animais e do animismo. O filme entra no minúsculo mundo das lesmas marrons, consideradas uma das muitas pragas destrutivas. Filmado numa atmosfera onírica, a pequena criatura assemelha-se a um pequeno alien, estranho e viscoso. O vídeo tem como objetivo refletir sobre a nossa relação com outros seres, inclusive aqueles que à primeira vista parecem repulsivos e feios.
06 - SUNSET FEVER
Randolpho Lamonier e Victor Galvão ( Brasil)
2022
10'42"
Sinopse: Sunset Fever, a 'febre do pôr-do-sol' é a paralisia e o êxtase de chegar ao fim do dia tendo todas as provas concretas de que o mundo acabou e ainda conseguir se surpreender de que existe ainda uma realidade para amanhecer no dia seguinte.
07 - WOMANIFESTO I
EFI SPYROU (Grécia)
2022
14’29’’
Synopsis: WOMANIFESTO I is a mosaic film-manifesto to unite the voices of women artists from across cultures, generations and creative disciplines in a collective roar - a powerful demand for change. The project involves 15 Greece-based women artists whose manifestos were filmed inside the greenhouse of the Agricultural University of Athens - the biodiverse setting mirroring the diversity of artistic voices now.
08 - LUMENS | Lumens
Muriel Paraboni (Brasil)
2020
5’
SINOPSYS: Inspired by the abstract paintings of Mondrian, Rothko and Barnett Newmann, 'Lumens' explores sensorial atmospheres through color and form. Combining fragments of images and climatic fields, the work unfolds space and time based on an experience with rhythms and repetitions, where everything that returns always returns differently. Created by Muriel Paraboni Release: May 2020. Type: Short/Experimental/Video art. Duration: 5 min
SESSÃO ESPECIAL
CAPITAL DE RISCO
Nicht ohne Risiko, 2004, Alemanha, 50 min, cor, som
Roteiro Harun Farocki, Matthias Rajmann
Dirigido por Harun Farocki
Câmera Ingo Kratisch
Som Matthias Rajmann
Editado por Max Reimann
Redaktion Werner Dütsch
Produção Harun Farocki Filmproduktion, Berlim
Coprodução WDR.
Sinopse
Representantes de uma empresa média e de uma companhia de capital de risco encontram-se para iniciarem conversações. Com a concessão de um empréstimo pretende-se fabricar, em série, uma invenção técnica. Farocki cinge-se a uma observação sem comentários e à montagem de duas conversações até à assinatura do contracto. Um olhar microscópico a uma célula da economia de hoje, uma etnografia do quotidiano económico.
TEXTOS sobre o filme
*conferir cessão de direito para publicar
Texto por Harun Farocki (disponível no site dele)
O que é capital de risco, ou VC, é explicado no próprio filme. Os bancos só dão dinheiro como garantia. Se não tiver isso, terá que recorrer a empresas de capital de risco e pagar juros de 40%. Pelo menos. Fizemos gravações nas mais diversas empresas, em empresas de VC que estão discutindo projetos, em empreendedores que querem dar forma a uma ideia, em consultores que estão praticando a apresentação. Mas então nos limitamos a uma única negociação em apenas dois dias.
Quando ouvi o advogado da NCTE, que buscava capital, dizer: “Estamos um pouco decepcionados com a oferta”, senti como se estivesse em um filme dos Coen Brothers. Os atores do nosso filme de história são brilhantes e cheios de entusiasmo. Negociam as condições em que deverão ser atribuídos 750 mil euros. Depois de inicialmente não conseguirem chegar a acordo, passam para uma discussão geral sobre questões estratégicas. Isso deixa claro que a NCTE, fabricante de sensores de torque sem contato, já está em discussões com grandes empresas. E isso desperta a imaginação, o mundo está cheio de possibilidades e é um prazer pesá-las.
Antes da próxima rodada de negociações, ambas as partes enviaram um representante para uma reunião da qual nada sabíamos. Eles chegaram a um acordo, mas isso não se sustentou na conversa. Mais uma vez houve uma reviravolta surpreendente nos acontecimentos. Poderíamos estar inclinados a tomar o partido do inventor-empreendedor, trabalho versus capital. Mas ele também quer ganhar dinheiro com seu negócio em alguns anos. (Harun Farocki)
Capital de risco
texto por Volker Pantenburg (enviado pelo instituto goethe)
Na altura em que, Harun Farocki, nos anos 60, fazia os seus primeiros filmes, todos teriam decifrado a sigla VC, como abreviatura de VietCong. Em 2004, assim o esclarece uma legenda no filme „Capital de risco“, a sigla VC significa Venture Capital : capital de risco.
Um empresário e engenheiro de uma média empresa precisa de dinheiro para poder produzir a sua invenção em série e lançá-la no mercado. Ele desenvolveu um sensor de movimento giratório que, por ser magnético, não necessita de contacto. Este sensor é indicado para os carros de corrida e para as gruas. Um outro empresário pode disponibilizar o dinheiro, 750€, como capital de risco, mas, uma vez que esta é a sua profissão, exige juros altos, ou seja, a participação na empresa. Ambas as partes se reúnem num gabinete austero, em Unterhaching, e negoceiam qual será o valor da empresa, a viabilidade da invenção e quais as condições para fecharem o negócio.
Farocki e o seu diretor de fotografia de longa data, Ingo Kratisch, documentam este processo pacientemente. Durante a maior parte do tempo, vemos rostos que falam, reflectem, ponderam e reagem estrategicamente, vemos mãos cruzadas, fases de tensão e de ponderação. Lá fora, através da janela, o dia vai escurecendo. Só muito raramente é que o filme abandona estas cenas de negociação. Algumas vezes, há animações de computador, que o inventor tem prontas para esclarecer potenciais compradores, que facilitam a visualização da técnica que está aqui em causa. Uma outra vez, somos conduzidos para a reunião seguinte, por uma simpática voz de GPS e vemos a desolada área comercial, através do vidro dianteiro do carro. De vez em quando, o chefe da empresa de capital de risco retira-se para o seu gabinete para se recostar na sua cadeira, ao som de música clássica, puxar do seu cachimbo, colocar os braços atrás da cabeça e como reação às exigências e recusas até agora feitas, discutir as novas estratégias de argumentação com o seu gestor de investimentos. No final, festejam, numa pizaria, o facto de terem fechado negócio.
É impressionante como os poucos elementos, quase sem onipresença, se vão ligando numa forte estrutura dramática. „Fizemos várias filmagens, nas mais diferentes empresas: em sociedades de capital de risco, que discutem os projetos, em empresas que pretendem dar forma a uma ideia, a consultores que ensaiam a apresentação. Porém, concentramo-nos depois numa única negociação, em apenas dois dias. Quando ouvi o advogado da empresa NCTE, em busca de capital, afirmar: 'estamos um pouco desiludidos com a oferta', senti-me como num filme dos Coen Brothers“. Harun Farocki torna óbvio que „ Capital de risco“ ultrapassa o caráter documental, sendo também um filme de ficção. O prazer de descobrir o potencial daquilo que é narrativo, ficcional, dentro de um documentário, condensando-o e fazendo-o sobressair , somente, através duma discreta montagem, liga este filme a muitos outros filmes que Farocki produziu, na sua preferência pelas técnicas do „direct cinema“, desde „Uma imagem“(1983).
A decisão de Farocki, de abdicar de um comentário explícito, proporciona ao espectador uma observação rigorosa: como é que as partes se comportam, uma em relação à outra, no caso de „Ideia e Capital irem ao encontro uma da outra“, ou seja, o slogan que acompanha o princípio do capital de risco? Será que os interesses de cada uma das partes são colocados abertamente? Será que há entendimento, uma plataforma de confiança dentro do interesse egoísta de obter um maior lucro possível? Que linguagem utilizam um engenheiro, um advogado e um estratega em finanças? O filme „Capital de risco“ é como uma observação microscópica a uma célula da economia de hoje, como uma etnografia do quotidiano económico. Aprende-se a gíria do mundo das negociações financeiras, nas quais os shares são „holdados“ e os fundos „raisados“ para preparar uma saída o mais lucrativa possível. „A equity dá bem logo à partida, sem serem precisos milestones“, afirma, a certa altura, o advogado da empresa que procura o capital, mas, felizmente, Farocki, coloca legendas, como se se tratasse de um filme estrangeiro. No entanto, o objectivo do filme não é denunciar tais linguagens, até porque este tipo de gíria existe, sempre que especialistas de uma certa área conversam entre si. O que se nos revela estranho, é constatarmos que é tão raro ter acesso a estas situações de diálogo.
Após uma segunda reunião e um pequeno-almoço secreto, entre o advogado e o investidor do capital de risco, as partes chegam a um acordo. De imediato, 5000.000 Euros entram para uma taxa de juros mais baixa. No caso de ser necessário avançar com mais dinheiro, a percentagem de participação, na empresa VC, aumenta 1/3. No restaurante italiano da esquina, o consultor da NCTE pensa:“o que é que acontece quando nos encontramos durante sete horas e no fim de contas, o resultado a que chegamos já podia ter acontecido em 5 minutos? O filme de Farocki é, entre outras, uma resposta a esta questão.
BIOS CONVIDADES
ALE AMAZÔNIA, 35, é um artista multidisciplinar, nascido em Curitiba/Brasil. Como músico, iniciou e seguiu atuando como baterista em bandas de punk e metal desde de sua adolescência até 2012; ano em que se mudou para China, onde morou por 8 anos. Por lá, inicialmente foi estudar mandarim na Universidade Jiaotong em Xangai, e trabalhou com comércio por certo tempo. Em 2014, conheceu o músico e compositor chinês Guang Xiaotian, e logo se tornaram amigos. Ele então o convidou a integrar sua banda de punk: 脏手指 (Oh!Dirty Fingers) e assim iniciou sua carreira de músico na China. Com 6 álbuns gravados e diversas turnês no currículo, a banda alcançou sucesso de público e da crítica especializada. Paralelamente, também desenvolveu outros trabalhos no mercado das artes; como produtor cultural, trabalhou em festivais de cinema, produções audiovisuais brasileiras, e como curador e gerente de um espaço cultural/galeria de arte em Pequim e Xangai; também foi assistente de produção para selos de música, como Maybe Mars Records, bem como, na fundação da plataforma de mídia independente Subtropical Asia . Em 2018, Alê Amazônia criou o projeto de intercâmbio cultural entre Brasil e China, focado em residências artística e co-produções musicais entre artistas brasileiros e chineses, chamado China Tropical; que teve apoio da Embaixada Brasileira em Pequim e duas edições realizadas com músicos brasileiros, como Negro Leo, Ava Rocha, Gustavo e Tulipa Ruiz e os chineses Gooooose, Yehaiyahan e 33EMYBW. Atualmente de volta ao Brasil, Amazônia lança seu primeiro livro, “Mil Olhos, Mil Braços: Relatos de Punk Antropofágico na China Vermelha” com editora paulistana Autonomia Literária, relatando sua experiência como um músico punk na China vigilante e contemporânea; além de lançar e encerrar sua carreira como artista solo sob o pseudônimo Amazonia, O Selvagem, com três álbuns, um audiolivro, 6 videos clipes e uma turnê. Atualmente está finalizando as gravação de seu primeiro álbum de estúdio, sob o pseudônimo Amazônia, O Abstrato, com a produção musical do ganhador de múltiplos Grammy Latinos, Gustavo Ruiz.
ALE AMAZONIA, 35, is a multidisciplinary artist, born in Curitiba/Brazil. As a musician, initiated as a drummer in punk and metal bands from his teens to 2012; year he moved to China, where he lived for 8 years. There, for a while, he studied Mandarin at the University of Shanghai, and worked with international trade. In 2014, he met the chinese musician and composer Guang Xiaotian, and soon became friends. He than, invited Amazonia to integrate his band: 脏手指 (Oh! Dirty Fingers) and thus his career of musicians in China started. With 6 recorded albums and several tours under their belt, the band achieved public and critical success. At the same time, Amazonia also developed other works in the arts market; as a cultural producer, produced in film festivals, Brazilian audiovisual productions and as manager of cultural space/art gallery in Beijing and Shanghai; he has also been a production assistant for music labels such as Maybe Mars Records, as well as founding the independent media platform Subtropical Asia. In 2018, Amazônia created the cultural exchange project between Brazil and China, focused on artistic residencies and musical co-productions between Brazilian and Chinese artists, called China Tropical; which had the support of the Brazilian Embassy in Beijing and two editions held with Brazilian musicians, such as Negro Leo, Ava Rocha, Gustavo and Tulipa Ruiz and the Chinese Gooooose, Yehaiyahan and 33EMYBW. Currently back in Brazil, Amazonia launches his first book, “A thousand eyes. A Thousand Arms: Tales of an antropophagic punk in red China" (Available only in Portuguese at the moment), recounting his experience as a punk musician in vigilant and contemporary China; in addition to his 3 years career as a solo artist under the pseudonym Amazonia, O Selvagem, with three albums, one audio book, 6 mv´s and one tour.
Currently is working in is first debut studio album, as Amazonia, O Abstrato under the production of multi Latin Grammy winner Gustavo Ruiz.
FRANCESCA LEONI
Artista de vídeo, performer e diretora de cinema. Trabalha junto com Davide Mastrangelo desde 2011 na área da performance em vídeo. Seus trabalhos foram exibidos em vários festivais por todo o mundo. Em 2015, ganharam o Maurizio Cosua’s Award com sua obra “Androgynous”. São diretores artísticos do Ibrida Festival.
IBRIDA FESTIVAL | FESTIVAL DELLE ARTI INTERMEDIALI
Ibrida, festival de artes intermidiáticas, nasceu em 2016 com o objetivo de investigar e divulgar as mais recentes produções e pesquisas no domínio do audiovisual experimental (videoarte, found footage, meta-cinema, animação 2D e 3D, etc.) , acolhendo de forma totalmente natural, a arte performática e música eletrônica. Ibrida acontece ao longo de vários dias em vários espaços da cidade de Forlì ( Italia) e cresce a cada ano atirando o interesse do público, artistas e profissionais. Ibrida tem curadoria da associação Vertov Project, com direção artística de Francesca Leoni e Davide Mastrangelo.
HARUN FAROCKI
9 de janeiro de 1944 nasceu em Nový Jicin (Neutitschein), nasceu em Nový Jicin (Neutitschein), na época Sudetengau, hoje República Tcheca. 1966 – 1968 Admissão ao recém-inaugurado Berlin Film Adacemy, DFFB. 1966 Casamento com Ursula Lefkes. 1968 Nascimento das filhas Annabel Lee e Larissa Lu. 1974 –1984 Autor e editor da revista Filmkritik, Munique. 1998 – 1999Falando sobre Godard / Von Godard sprechen, Nova York / Berlim. (Juntamente com Kaja Silverman). 1993–1999 Professor visitante na Universidade da Califórnia, Berkeley. Casamento em 2001 com Antje Ehmann. Desde 1966 mais de 100 produções para Televisão ou Cinema: TV Infantil, Filmes Documentários, Filmes Ensaios, Filmes de História. Desde 1996 diversas exposições individuais e coletivas em Museus e Galerias. 2007 com participação do Deep Play na documenta 12. Desde 2004 Professor Visitante, 2006 - 2011 Professor Titular na Academia de Arte de Viena. Projeto de longo prazo 2011 – 2014 Labor in a Single Shot, junto com Antje Ehmann. 30 de julho de 2014 morreu perto de Berlim.